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Qual a história que eu conto para mim mesma?

Leio e releio depoimentos não linkedin sobre pessoas que ressuscitaram das cinzas profissionais para um lugar de libertação e penso por que essa pessoa não sou eu?

Perdi minha avó e meu emprego em menos de um mês. Essa é a minha frase rótulo. 

2021 foi especialmente desafiador para mim, CEPs diferentes, e-mails coorporativos diferentes e boas sessões de terapia, claro. 

Alcançando a marca dos 25 anos eu sairia de casa para ter meu próprio espaço, seria o ano de um novo ciclo. Essa era a história que eu contava para mim mesma desde os 15, mas não previa que seria tão turbulento assim. 

Eu me planejei para isso claro, quase 6 meses trabalhando arduamente na terapia para compreender o que significa sair de casa, como é ser a primeira pessoa da minha família a construir seu próprio espaço por vontade pessoal e não por necessidade. Como eu faria isso? Como minha família receberia? Será que eu daria conta? 

A decisão já estava tomada. 

Vieram as burocracias, morar perto do trabalho ou perto da família? Com o namorado ou sem o namorado? E se eu perdesse o emprego? Infinitos questionamentos, mas nada tão importante quanto o caos que estava o relacionamento com a minha mãe, logo eu a única filha dela.

Teimosia sempre foi um dos adjetivos que recebi ao longo da vida, e não mudei. No dia 26 de abril carreguei a minha última mochila de roupas do quarto verde-ciano recém pintado por mim.

Até lá já havia um mês e meio que encarava outro desafio, também mais do que desejado. Eu deixei um salário relativamente maior para trabalhar em uma fintech. O que não foi de um dia pro outro. Eu vinha de um processo de quase burnout (ou já era) em um agência de comunicação/consultoria que um dia foi o lugar dos sonhos para mim. Era hora de traçar nova rota. 

Superado um processo seletivo que testou minha autoconfiança, era tudo lindo, tudo verde. Mas aquilo, em algum momento que ainda não consigo ver com clareza, se tornou um estorvo. Tentava de lado, tentava de outro, mas simplesmente não conseguia me encaixar. Foi aí que descobri o tal do fit cultural. 

Em meio a ansiedade esmagadora em relação às notícias que chegavam da minha avó internada há mais de dois meses com a tal da doença, declaro para minha gestora após receber feedback "olha, então não sei mais o que fazer, eu já tentei de todas as formas, mas não caibo aqui." 

Risos risos. Fiquei de open to work uma semana depois.  

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